Tenho certeza que 2011 me reserva grandes descobertas e experiências. Toda essa expectativa se deve as escolhas que fiz, após um tempo de discernimento, crises e reflexões. Não que tudo esteja resolvido, mas, mais um passo está sendo dado. Aos que não entendem, minha decisão é vista com certa desconfiança, acham-na um absurdo. Porém, mesmo os que apóiam ou acreditam, esta decisão ainda é vista como um grande mistério. E isto realmente nunca deixará de ser, independente de opiniões alheias.
"Sou um mistério para mim mesmo”. Comungo dessa identidade de Clarice Lispector. Cada um de nós é um mistério singular, irresistivelmente irrepetível. Contudo, alguns se fazem mais singulares que outros, não por vaidade ou autopromoção, mas, por livre escolha a um jeito de ser. No exercício da liberdade algumas pessoas, que ouviram o chamado, respondem generosamente a uma possibilidade de realização. Escolhem – esquivando-se de reações imaturas ou motivações mesquinhas – aquilo que tem um significado de realização autêntica na vida e que deriva dos valores transcendentes e imanentes no seguimento de Jesus Cristo.
Aqui o importante é ter presente o que mais nos conduz ao fim para o qual fomos criados, o que mais nos deixa feliz, o que mais nos realiza interiormente, não momentaneamente, ou seja, que nos confere sentido pleno de viver.
Acho que ser “Contemplativo na Ação” é também ser um “Habitante de Fronteiras”. Para tanto, quero compartilhar com vocês um texto do padre jesuíta J. Ramón F. de la Cigonã, texto este que muito me ajudou a clarear horizontes. Padre Ramón foi formador da Comunidade Vocacional dos Jesuítas por muitos anos, quando a mesma localizava-se em Juiz de Fora, MG. Hoje ele mora em Santa Rita do Sapucaí, MG e a Comunidade Vocacional transferiu-se para Campinas, SP.
O texto não poderia ter outro nome que “Habitante de fronteiras...”
<<O Espírito de Jesus, agente do misterioso processo vocacional, dessa sedução evangélica capaz de tirar alguém do próprio ambiente, da família e dos próprios projetos, é quem nos leva a essa zona fronteiriça, existencialmente nova, religiosamente densa e sociologicamente periférica. O limite é a fronteira do nosso existir, próprio da vida religiosa.
Todo vocacionado é testemunha desse umbral (entrada para o novo), desse espaço fronteiriço, onde se travam encontros e desencontros. Para além do limite está o diferente, o novo, o desconhecido; aquém do limite, está o mundo próprio, a segurança e o status... Daí, o espanto que produz quando alguém se coloca no limite.
Mas, é próprio da juventude atravessar fronteiras, e passar para a outra margem. Nem todos são capazes de fazê-los; alguns até fogem disso. A maioria é habitante do “mundo”, não dos seus limites. Quem é capaz de suportar e sustentar a abertura do novo e entrar nele, esse é um “habitante da fronteira”, um vocacionado; seu caminho é original, alternativo, diferente e contrasta com a da maioria, com o modo de viver “de todo o mundo”.
O verdadeiro “hábito” (= habitat) do jesuíta é o de viver na fronteira e encontrar-se com os habitantes dela, com os excluídos, com aqueles que vivem no limite do humano; estar onde o homem parece irreconhecível e perdeu as suas feições. Precisamos de mais jovens entrando nessas fronteiras, vivendo no mistério de Deus e trabalhando por maior fraternidade.>>
Eis-me aqui Senhor, um habitante de fronteiras, passageiro de um sonho maior que eu!
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